Prólogo
O envelhecimento populacional é agora um fenômeno global que está evoluindo rapidamente em todo o mundo e é o principal fator de risco para doenças crônicas e incapacidades nas sociedades humanas. Isso terá consequências importantes para o planejamento e prestação de serviços de assistência médica e assistência social, um impacto ainda não totalmente estruturado. Os novos avanços científicos na biologia e na medicina irão multiplicar essas questões ao possibilitar um envelhecimento saudável e estender a vida em números ainda inimagináveis. A expectativa de vida vem se elevando em meses a cada ano, todavia, a extensão da vida individual pode em pouco tempo dar saltos de anos. Será comum a idade de 100 anos em mais algumas décadas. A extensão da vida, de fato, nos leva a reconsiderar não apenas a condição do idoso, mas também que tipo de implicações o envelhecimento terá em nossas vidas.
Este não é um livro de geriatria, aqui você não vai encontrar comentários sobre os cuidados que um idoso necessita, nem fórmulas para tratar suas doenças e suas dificuldades. Também não dissertaremos sobre condutas como emprego de células tronco ou de engenharia genética, que pelo alto custo financeiro excluirão os mais pobres, mas sim de métodos alcançáveis por qualquer indivíduo ou pelo menos pela grande maioria das pessoas. Nosso propósito foi estudar os caminhos científicos que propõem métodos que permitam o envelhecimento, com o mínimo de perda dos parâmetros que avaliam o estado de saúde e, a extensão da vida por muito mais anos do que o naturalmente esperado pela curva ascendente da expectativa de vida.
O passo inicial, o envelhecimento saudável, já é alcançado por aqueles que dispõem da atenção de serviços médicos e se preocupam com sua saúde. Para o passo seguinte, alongamento da vida ou extensão da vida, já existem muitas técnicas para se alcançar idade centenária. Esse é o foco principal desse livro. Aqui são estudados os principais caminhos teórico/práticos alicerçados na Gerontologia moderna e na Medicina Funcional e Ortomolecular. O livro foge dos conceitos tradicionais da geriatria e busca o novo. Aqui não serão encontradas as tradicionais referências de prevenção de doenças que incluem atividade física, controle do estresse, da pressão arterial ou do colesterol, passando por manutenção de atividades recreativas e exercícios mentais para ativar memória. Essas condutas essenciais para a boa saúde já são bastante conhecidas pelos profissionais de saúde e pela população em geral. Aqui também não será divulgado que o simples ato de ingerir vitaminas ou suplementos obrigatoriamente evitará doenças ou prolongará os anos vividos. Assim como, utilizar-se de coisas mágicas, como elixires, cristais, águas termais, magnetismo, entre outros, não estenderá a vida.
Do início ao final do século XX a expectativa de vida pulou de 45 anos para 75 anos, 30 anos em 100. Atualmente, espera-se que alcancemos esse salto espetacular em menos de 30 anos. Assim, a população mundial observará um tsunami de idosos por todo o planeta, um privilégio que será maior nos países mais ricos. No entanto, os novos conhecimentos científicos aqui estudados e que podem ser utilizados por qualquer indivíduo, são independentes do fator econômico, portanto, ao alcance de todos. Aqui buscamos métodos científicos que utilizam formas de prolongar a vida produtiva e elevar os anos de saúde, na tentativa de atrasar, parar e até reverter o processo de envelhecimento. Mais ainda. Atualmente já existem métodos comprovados de extensão da vida, muito além de apenas envelhecer com mais saúde e menos doenças. A quase um século, desde McCay, que a restrição calórica estende a saúde e a vida de vários modelos experimentais de curta duração e trouxe à tona o papel de diferentes efetores moleculares envolvidos nas vias de detecção de nutrientes e na longevidade. Isso trouxe a possibilidade de modular esses efetores moleculares também em humanos para aumentar a longevidade e o tempo de saúde. A dificuldade de implementar dietas restritas em calorias em humanos levou ao desenvolvimento de novas dietas mais suportáveis, como alimentação com restrição de tempo, jejum intermitente ou dietas com quantidades limitadas de alguns nutrientes e também, a busca de agentes farmacológicos ou não, conhecidos como miméticos da restrição calórica, direcionados aos efetores que medeiam a extensão da vida e da saúde. A capacidade dessas abordagens alterarem esses efetores, através da expressão de gens referidos a defesa celular e manutenção da homeostase, são o motivo maior de nossos estudos nessa área. Assim, as modificações de hábitos dietéticos podem interagir com os gens referidos a manutenção de vida de cada indivíduo, sendo assim capazes de modificar programas genéticos de envelhecimento. Os gens relacionados a essa transformação celular são principalmente os gens AMPK, sirtuínas, FOXO, mTOR, insulina e IGF-1. As abordagens farmacológicas, sintéticas ou naturais, que eliminam células senescentes ou impedem causas primárias de envelhecimento, como o encurtamento dos telômeros, o fenômeno da glicação e as mitocondriopatias, também emergem como estratégias para o envelhecimento saudável e maior longevidade.
O livro abrange minuciosamente os vários tipos de restrições alimentares com foco especial nas modificações da expressão genética, assim como nos miméticos capazes de atuarem como coadjuvantes, elevando assim a adaptabilidade humana aos diversos tipos de métodos dietéticos. São abordados os miméticos resveratrol, metformina, glucosamina, rapamicina, poliaminas, liraglutido, os inibidores da DPP4, os inibidores do SGLT2 como empagliflozina e canagliflozina, Astragalus membranaceus, quercetina, vitamina D3 entre outros.
Maior efeito ainda sobre os vários tipos de dietas relacionadas à restrição calórica e a extensão da vida, será alcançado se a elas forem incluídos os múltiplos benefícios de padrões dietéticos de algumas populações como os povos mediterrâneos e a culinária do extremo oriente. Nos referimos a três tipos de dieta comprovadamente protetoras contra diversas doenças: 1- a dieta mediterrânea rica em grãos, cereais, legumes, frutas, além da gordura insaturada encontrada no azeite e nos peixes e o vinho nas refeições; 2- a dieta habitual dos povos do extremo oriente, rica em soja fermentada, chá verde, legumes e peixe; 3- a dieta de Okinawa (Japão) que além da dieta oriental citada, tem mais de 90% da carga calórica extraída de vegetais específicos da região, com o uso mínimo de proteínas animais, açúcar e sal. Além dessas três dietas citadas, as dietas tipo low carb ou cetogênica também têm sido referidas como capazes de alterar expressão genética de gens referidos à proteção celular contra a senescência.
Alcançar um envelhecimento saudável e estender o número de anos vividos fará com que nossa capacidade de nos dedicar às nossas atividades não seja diferente da de uma pessoa mais jovem, onde quer que passemos a velhice com boa saúde. Pelo contrário, quando os anos de velhice são dominados pela fragilidade do idoso traduzida pela redução geral da saúde, declínio cognitivo, limitações de movimentos, queda da imunidade, sarcopenia, câncer e doenças cardiovasculares e, portanto, perda da auto-suficiência, as implicações para os indivíduos e para a sociedade como um todo serão muito negativas. Os anos vividos na velhice podem ser muito promissores e certamente inovadores por ser uma época muito especial da vida, quando muitos encontram maior independência financeira pela redução dos compromissos com a família, um tempo maior para se dedicarem a hobbies, entretenimento, busca de novos conhecimentos e até de novas profissões e desafios. Pode ser uma época para realizar os sonhos que uma vida de trabalho intenso impediu de realizá-los.
Avaliações
Não há avaliações ainda.